Fumávamos
compulsivamente. Sandro Stone logo se adiantou e começou a preparar mais um
cigarro de maconha. Laura disse, toda pomposa: “Você dichava que eu bolo”.
Todos riram com o despretensioso trato ilícito. Ríamos intensamente, mas não
sabíamos se pela frouxa piada, ou se era apenas um dos efeitos do entorpecente.
Não importava, estávamos felizes.
Antônio
levantou-se e foi até a cozinha buscar algumas cervejas e qualquer coisa para
comermos. “Que que tem pra comer aqui, Jorge?”. Jorge estava catastroficamente
bêbado e não podia responder. Sheila pegou um blush e um batom e o maquiou. Todos
compactuaram com aquele velho clichê que é maquiar o amigo embriagado. Ríamos
como se fôssemos morrer de tanto rir. Sheila até mesmo arriscou alguns passos
de dança para comemorar a triunfante peripécia, mas perdeu o equilíbrio e caiu
sentada. Gritava desesperadamente: “Meu cu, acho que quebrei meu cu! Ai, ai,
gente, alguém me ajuda”. Ria de si mesma e nós, envolvidos pelo clima
extremamente risível, ríamos também.
Fomos
à varanda e ficamos lá ouvindo a majestosa voz de Raul Seixas cantando “Pedro
onde cê vai eu também vou... Mas tudo acaba onde começou”. Uivos eram lançados
a quilômetros de distância: “Cara, eu amo o Raul... Amo. Vai Raul!”, dizia
Steban, sob o efeito de cocaína. Depois caiu no chão e simulou uma rápida
convulsão. Levantou-se urinando as próprias calças de tanto rir das nossas
caras, pois estávamos em estado de choque, pensando que o desgraçado estava
tendo algum piripaque. Um coral de sete vozes entoou um belo “filho da puta!”.
Depois todos rimos com a situação. Steban, reconhecendo que não estava muito
bem, foi para casa descansar.
Depois
disso, todos foram se dispersando aos poucos. Sandro Stone tinha de voltar para
casa, pois sabia que sua esposa o esperava – a essa altura provavelmente
furiosa. Ele havia dito que viria aqui em casa e que não demoraria, mas ficou
mais de quatro horas – e pior – com o celular desligado. Prometera a ela também
que não usaria nada naquela noite – o que falhou em cumprir. Ofereceu uma
carona à Laura e Edgard e os três partiram. Os outros também se foram, como se
realmente tivessem algo importante a fazer ou alguém preocupado a sua espera.
“Tão infelizes quanto eu, ou até mais”, pensei.
“Quero
ouvir só mais um música do Pearl Jam”, disse Sheila. “Tá, mas primeiro me ajuda
a colocar o Jorge na cama, não quero que ele tenha a coluna toda estropiada.
Esse sofá é horrível!”. Rimos, dessa vez sem muito entusiasmo. Ouvimos “Black”,
uma de minhas favoritas. Acompanhei Sheila até o portão e ela, assim como os
outros, também se foi.
Ficamos
apenas Jorge e eu, sozinhos como menores abandonados. Ele numa espécie de coma
profundo... Acendi um cigarro e me propus a beber uma última cerveja ao som de
“Wish you were here”.
Jorge
estava desmaiado na cama; tinha um sorriso de canto de boca como quem confessa
aos quatro cantos do mundo: “Sim, fiz e faria tudo de novo”. Olhei para ele com
um olhar bobo, meio apaixonado. Dei um beijo em seu rosto e fui me deitar no
velho e desconfortável sofá.
Gilmar Ribeiro (piu!)
01/04/2012
Revisado
por Alecs Diniz
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