domingo, 1 de abril de 2012

Nós


Fumávamos compulsivamente. Sandro Stone logo se adiantou e começou a preparar mais um cigarro de maconha. Laura disse, toda pomposa: “Você dichava que eu bolo”. Todos riram com o despretensioso trato ilícito. Ríamos intensamente, mas não sabíamos se pela frouxa piada, ou se era apenas um dos efeitos do entorpecente. Não importava, estávamos felizes.

Antônio levantou-se e foi até a cozinha buscar algumas cervejas e qualquer coisa para comermos. “Que que tem pra comer aqui, Jorge?”. Jorge estava catastroficamente bêbado e não podia responder. Sheila pegou um blush e um batom e o maquiou. Todos compactuaram com aquele velho clichê que é maquiar o amigo embriagado. Ríamos como se fôssemos morrer de tanto rir. Sheila até mesmo arriscou alguns passos de dança para comemorar a triunfante peripécia, mas perdeu o equilíbrio e caiu sentada. Gritava desesperadamente: “Meu cu, acho que quebrei meu cu! Ai, ai, gente, alguém me ajuda”. Ria de si mesma e nós, envolvidos pelo clima extremamente risível, ríamos também.

Fomos à varanda e ficamos lá ouvindo a majestosa voz de Raul Seixas cantando “Pedro onde cê vai eu também vou... Mas tudo acaba onde começou”. Uivos eram lançados a quilômetros de distância: “Cara, eu amo o Raul... Amo. Vai Raul!”, dizia Steban, sob o efeito de cocaína. Depois caiu no chão e simulou uma rápida convulsão. Levantou-se urinando as próprias calças de tanto rir das nossas caras, pois estávamos em estado de choque, pensando que o desgraçado estava tendo algum piripaque. Um coral de sete vozes entoou um belo “filho da puta!”. Depois todos rimos com a situação. Steban, reconhecendo que não estava muito bem, foi para casa descansar.

Depois disso, todos foram se dispersando aos poucos. Sandro Stone tinha de voltar para casa, pois sabia que sua esposa o esperava – a essa altura provavelmente furiosa. Ele havia dito que viria aqui em casa e que não demoraria, mas ficou mais de quatro horas – e pior – com o celular desligado. Prometera a ela também que não usaria nada naquela noite – o que falhou em cumprir. Ofereceu uma carona à Laura e Edgard e os três partiram. Os outros também se foram, como se realmente tivessem algo importante a fazer ou alguém preocupado a sua espera. “Tão infelizes quanto eu, ou até mais”, pensei.

“Quero ouvir só mais um música do Pearl Jam”, disse Sheila. “Tá, mas primeiro me ajuda a colocar o Jorge na cama, não quero que ele tenha a coluna toda estropiada. Esse sofá é horrível!”. Rimos, dessa vez sem muito entusiasmo. Ouvimos “Black”, uma de minhas favoritas. Acompanhei Sheila até o portão e ela, assim como os outros, também se foi.

Ficamos apenas Jorge e eu, sozinhos como menores abandonados. Ele numa espécie de coma profundo... Acendi um cigarro e me propus a beber uma última cerveja ao som de “Wish you were here”.

Jorge estava desmaiado na cama; tinha um sorriso de canto de boca como quem confessa aos quatro cantos do mundo: “Sim, fiz e faria tudo de novo”. Olhei para ele com um olhar bobo, meio apaixonado. Dei um beijo em seu rosto e fui me deitar no velho e desconfortável sofá.



Gilmar Ribeiro (piu!)
01/04/2012
Revisado por Alecs Diniz

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