terça-feira, 13 de outubro de 2009

Memórias de Wladimir, o pedreiro


Eu me lembro, com saudades, das pamonhas que minha mãe fazia. Me lembro que eu brincava com meus carrinhos de barro. Me lembro que havia pureza nas crianças. Me lembro de meu pai, que ia pro mato caçar tatu. Me lembro de muitas outras coisas. Algumas, confesso, não me lembro tão bem.

Me lembro da Mariazinha, filha de Ziraldo mais Jança, que era a moça mais jeitosa de Pedreira. Me lembro das outras moças que passavam, e que não me davam bola. Me lembro da filha do seu Itamar, a Karina, que era feia, mas que gostava de mim.

A gente se casou.

Em cinco anos a gente teve duas meninas. A mais velha era ruim. Com dois anos já sabia fazer seus atos de ruindade. A mais nova, apesar de mais nova, também não era flor que se cheirasse.

Como a mulher não dava conta do serviço, arrumei outra rapariga para me dar um filho homem.
Me engracei com uma tal de Maria Rita, que era filha da dona Conceição, mas que não tinha pai. Coitada. A gente se bolinou um pouco, depois ela apareceu prenha.

Karina achou ruim, mas o que podia fazer? O que eu podia fazer? Eu queria um filho homem, e ela parecia não ser mulher para me dar tal felicidade. Se enfezou em foi-se embora pra casa de sua mãe, e levou as duas meninas, aquelas excomungadas de uma figa.

Maria Rita deu à luz a um menino feio. Mas que importava ser feio? O menino era meu. Meu filho homem. Meu moleque. Meu herdeiro.

Depois disso levantei a casa de seu Ciço. Me pagou bem. Deu um trabalhão danado, mas valeu a pena. Tive dinheiro para sustentar Maria Rita e o menino durante um bocado de tempo.
 
De vez em quando tomava uma e caia no meio da rua. O povo de Pedreira sempre ria de mim. Eles diziam: “Lá vai o bebum! Pega o bebum!”, e riam.

Com o tempo também veio a idade e a canseira. Com o tempo veio as doenças, mas parecia que nenhum era capaz de me derrubar.

Depois de mais algum tempo, peguei a doença do rato. Fiquei durante sete meses ruim que nem um qualquer aí. Morri. Karina chorou minha morte. As meninas choraram minha morte. Maria Rita chorou minha morte. Todos choraram minha morte. Exceto o menino.


Gilmar Ribeiro (piu!)

12.10.2009 às 10h43
*Não revisado

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

?


Não sei se te amo. Não sei te odeio. Não sei se te quero longe, muito menos se te quero perto de mim. Não te quero como homem, ou como mulher, ou como bicho, ou como objeto. Não sei como, só sei que não te quero. A rejeição só tem uma cor, e ela é púrpura. Talvez como um céu embriagado e encantado com sua própria imensidão. Onde os apaixonados, amigos, pais e filhos, conhecidos ou até mesmo desconhecidos se encontram, sem maiores pretensões, senão de deixar cada qual em seu canto. Todos pintados em um único tom.

Gilmar Ribeiro (piu!)

05.07.2009 às 02h32
*Não revisado