Eu
me lembro, com saudades, das pamonhas que minha mãe fazia. Me lembro que eu
brincava com meus carrinhos de barro. Me lembro que havia pureza nas crianças.
Me lembro de meu pai, que ia pro mato caçar tatu. Me lembro de muitas outras coisas.
Algumas, confesso, não me lembro tão bem.
Me
lembro da Mariazinha, filha de Ziraldo mais Jança, que era a moça mais jeitosa
de Pedreira. Me lembro das outras moças que passavam, e que não me davam bola. Me
lembro da filha do seu Itamar, a Karina, que era feia, mas que gostava de mim.
A
gente se casou.
Em
cinco anos a gente teve duas meninas. A mais velha era ruim. Com dois anos já
sabia fazer seus atos de ruindade. A mais nova, apesar de mais nova, também não
era flor que se cheirasse.
Como
a mulher não dava conta do serviço, arrumei outra rapariga para me dar um filho
homem.
Me
engracei com uma tal de Maria Rita, que era filha da dona Conceição, mas que
não tinha pai. Coitada. A gente se bolinou um pouco, depois ela apareceu
prenha.
Karina
achou ruim, mas o que podia fazer? O que eu podia fazer? Eu queria um filho
homem, e ela parecia não ser mulher para me dar tal felicidade. Se enfezou em
foi-se embora pra casa de sua mãe, e levou as duas meninas, aquelas
excomungadas de uma figa.
Maria
Rita deu à luz a um menino feio. Mas que importava ser feio? O menino era meu.
Meu filho homem. Meu moleque. Meu herdeiro.
Depois
disso levantei a casa de seu Ciço. Me pagou bem. Deu um trabalhão danado, mas
valeu a pena. Tive dinheiro para sustentar Maria Rita e o menino durante um
bocado de tempo.
De
vez em quando tomava uma e caia no meio da rua. O povo de Pedreira sempre ria
de mim. Eles diziam: “Lá vai o bebum! Pega o bebum!”, e riam.
Com
o tempo também veio a idade e a canseira. Com o tempo veio as doenças, mas
parecia que nenhum era capaz de me derrubar.
Depois
de mais algum tempo, peguei a doença do rato. Fiquei durante sete meses ruim
que nem um qualquer aí. Morri. Karina chorou minha morte. As meninas choraram
minha morte. Maria Rita chorou minha morte. Todos choraram minha morte. Exceto
o menino.
12.10.2009 às 10h43
*Não revisado
Nenhum comentário:
Postar um comentário