São Paulo, 4 de julho de 2006
Acabo de ser arremetido por um funesto sopro de
nostalgia. Ou seria pura e verdadeira saudade?
Reviro certas gavetas emboloradas e deslembradas
da memória, onde encontro alguns fragmentos do nosso já cadavérico amor,
retalhos de qualquer coisa que fomos. Aliás, o que fomos? Fomos amantes fervorosos,
loucos alucinados e guiados pelo frenesi da paixão. Éramos apaixonados um pelo
outro, como num primoroso incesto entre pai e filho. Tínhamos um demente,
dolente e perfeito amor.
Éramos inseparáveis. Até que nos separamos. “E
cada qual no seu canto. Em cada canto uma dor”. Você voltou para o Rio de
Janeiro; eu fiquei em São Paulo, seguindo com as minhas coisas. Você me mandou
dois e-mails dizendo “Estou com saudades. Ainda te amo”, e eu nunca os
respondi.
Esses dias pensei em você. Senti saudades,
confesso, mas o meu orgulho não deixou que eu ligasse. Aliás, acho que nem
tenho mais o seu número.
*
Não sei por que, mas acabo de lembrar das vezes
que ficávamos sozinhos em casa, como menores abandonados. Você dizia que eu era
o homem mais lindo do mundo, enquanto eu falava, cheio de graça: “E você é o
homem mais bonito da minha vida. Também tem os feios, mas estes, como bem se
sabe, são feios!”. Ríamos.
Semana passada coloquei fogo naquele velho
sofá. Ia dar para alguém, mas estava completamente carcomido. Achei melhor
queimá-lo.
É isso. Essa foi só mais uma carta que escrevi,
só para poder lembrar de você. Depois de revisá-la a jogarei no lixo, numa
tentativa boba de te esquecer.
Gilmar Ribeiro (piu!)
04/07/2012, às 16h16
*Não revisado
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